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quinta-feira, 26 de abril de 2012

Necrológio dos Desiludidos do Amor


Os desiludidos do amor
estão desfechando tiros no peito.
Do meu quarto ouço a fuzilaria.
As amadas torcem-se de gozo.
Oh quanta matéria para os jornais.
Desiludidos mas fotografados,
escreveram cartas explicativas,
tomaram todas as providências
para o remorso das amadas.
Pum pum pum adeus, enjoada.
Eu vou, tu ficas, mas nos veremos
seja no claro céu ou turvo inferno.
Os médicos estão fazendo a autópsia
dos desiludidos que se mataram.
Que grandes corações eles possuíam.
Vísceras imensas, tripas sentimentais
e um estômago cheio de poesia.
Agora vamos para o cemitério
levar os corpos dos desiludidos
encaixotados competentemente
(paixões de primeira e segunda classe).
Os desiludidos seguem iludidos,
sem coração, sem tripas, sem amor.
Única fortuna, os seus dentes de ouro
não servirão de lastro financeiro
e cobertos de terra perderão o brilho
enquanto as amadas dançarão um samba
bravo, violento, sobre a tumba deles.



(Carlos Drummond de Andrade)

quinta-feira, 15 de março de 2012

Salvação


Estar a salvo
Não é se salvar
Como um navegador
Que vai até onde dá
Você tem que ser livre
Para o que pintar
Nenhuma pessoa é lugar de repouso
Juntos chegaremos lá


(Nei Duclós)



quinta-feira, 8 de março de 2012

Dia Internacional da Mulher

(...)


E no longo capítulo das mulheres, Senhor, tenha piedade das mulheres
Castigai minha alma, mas tende piedade das mulheres
Enlouquecei meu espírito, mas tende piedade das mulheres
Ulcerai minha carne, mas tende piedade das mulheres!

Tende piedade da moça feia que serve na vida
De casa, comida e roupa lavada da moça bonita
Mas tende mais piedade ainda da moça bonita
Que o homem molesta — que o homem não presta, não presta, meu Deus!

Tende piedade das moças pequenas das ruas transversais
Que de apoio na vida só têm Santa Janela da Consolação
E sonham exaltadas nos quartos humildes
Os olhos perdidos e o seio na mão.

Tende piedade da mulher no primeiro coito
Onde se cria a primeira alegria da Criação
E onde se consuma a tragédia dos anjos
E onde a morte encontra a vida em desintegração.

Tende piedade da mulher no instante do parto
Onde ela é como a água explodindo em convulsão
Onde ela é como a terra vomitando cólera
Onde ela é como a lua parindo desilusão.

Tende piedade das mulheres chamadas desquitadas
Porque nelas se refaz misteriosamente a virgindade
Mas tende piedade também das mulheres casadas
Que se sacrificam e se simplificam a troco de nada.

Tende piedade, Senhor, das mulheres chamadas vagabundas
Que são desgraçadas e são exploradas e são infecundas
Mas que vendem barato muito instante de esquecimento
E em paga o homem mata com a navalha, com o fogo, com o veneno.

Tende piedade, Senhor, das primeiras namoradas
De corpo hermético e coração patético
Que saem à rua felizes mas que sempre entram desgraçadas
Que se crêem vestidas mas que em verdade vivem nuas.

Tende piedade, Senhor, de todas as mulheres
Que ninguém mais merece tanto amor e amizade
Que ninguém mais deseja tanto poesia e sinceridade
Que ninguém mais precisa tanto alegria e serenidade.

Tende infinita piedade delas, Senhor, que são puras
Que são crianças e são trágicas e são belas
Que caminham ao sopro dos ventos e que pecam 
E que têm a única emoção da vida nelas.

Tende piedade delas, Senhor, que uma me disse 
Ter piedade de si mesma e da sua louca mocidade
E outra, à simples emoção do amor piedoso
Delirava e se desfazia em gozos de amor de carne.

Tende piedade delas, Senhor, que dentro delas
A vida fere mais fundo e mais fecundo
E o sexo está nelas, e o mundo está nelas
E a loucura reside nesse mundo.

Tende piedade, Senhor, das santas mulheres
Dos meninos velhos, dos homens humilhados — sede enfim
Piedoso com todos, que tudo merece piedade
E se piedade vos sobrar, Senhor, tende piedade de mim!


(Parte de "Elegia Desesperada" - Vinicius de Moares)




terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

C


Cara. Cursinho. Classe. Cheiroso. Carro. Conhecer.

Carona. Conversa. Canhota. Colega. Camiseta.

Cinema. Citar. Cupido. Coletivo. Calabresa. Comunhão. Cogitar.

Conectar. Computador. Circunstância. Convite. Cardápio. Castanho. Compostura.

Cachaça. Carnudo. Cerveja. Carinho. Colírio. Carisma. Celular.

Chegar. Conviver. Cantina. Curtir. Conquista. Caçoar. Cantada. Combinar.

Coragem. Contínuo.  Constante. Carícia. Coincidências. Cutucar. Corar.

Chave. Cedo. Centro. Café. Cafuné. Cortejo. Carboidrato. Carne. Comida.

Cidade. Começo. Comédia. Combater. Cepticismo.

Crítica.

Cultura. Curiosidade. Cotidiano.

Cabeça. Causalidade.

Caridade. Cego. Canhão. Contrariar. Confusão. Cachorro. Criança.

Caos.

Causar. Comparação. Cavalheirismo. Classificar. Campeão.

Carteira. Caminho. Contar. Comover. Calçada. Cérebro. Castigo. Certo?

Compaixão. Ciclista. Chuva. Cuidar. Comando. Compreensão. Caracterizar. Compromisso.

Chegado. Ceder.

Calúnia. Cambalear. Cautela. Coração. Criar. Cativar. Casal. Ciente. Concordar.

Carência. Contagem. Canto. 
Casa. Cochilar. Cozinha. Coerência. Coesão. Cintura. Colaborar.

Companheirismo. Comunicar. Concentrar. Conciliar. Chope.

Cenário: Cama. Calça. Cueca. Cacete. Camisa. Calcinha.

Cena: Concisão. Camisinha. Consumação.

Continuar. Consecutivo. Chantagem.

Crepúsculo. Clichê. Contexto. Celebrar. Contigo. Comigo. Contente.

Conteúdo. Cobiça. Ciúme. Controlar. Construir. 

Cio. Cinco. Cobra. Colchão. Chuveiro. Cansaço. Comer.

Caro. Casamento. Carruagem. Castelo. Céu.

Claro. Colo. Cócegas. Consideração.

Crescente. Criatividade. Cremoso. Cruzar. Chupão.

Conchas. Consolo.

Confidenciar. Concretizar.

Confessar. Confiar. Calçado. Conforto.

Cavalgar. Chupar. Coluna. Contorcer. Costas.

Concluir. Coito.

Corresponder.

Consciência. Constranger. 
Crise.

Convencer. Chorar.

Chifres. Conferir. Confirmar. Comprovar. Chocar. Caráter.

Conseqüências. Contradizer. Cínico.

Confessar. Chatear.

Cúmulo.

Cadáver. Cafajeste. Canalha. Castrar. Cretino. Crueldade. Culpado.

Convencer. Correção. Consertar?

Caralho. Corpo. Coxa. Contração. Cravar. Cicatrizes.

Cilada.

Cômico.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Liberdade não mais tardia


Clarice Lispector, escritora pós modernista, afirmou que liberdade é viver; ou seja, todos são livres e de acordo com a autora, o que ela ansiava, ainda não possuía nome.

Sabe-se que liberdade para alguns é apenas uma palavra, porém, para outros, remete a sentimentos, atitudes e poder. Os revoltosos franceses, por exemplo, ao tomarem a Bastilha na Revolução Francesa que tinha como lema: Liberdade, Igualdade e Fraternidade, buscavam acabar com o Absolutismo e ter voz ativa no poder. A partir daí, diversos movimentos político-sociais se desdobraram pelo mundo até se conquistar as formas de governo existentes hoje.

No Brasil, o traído movimento republicano da Inconfidência Mineira, trouxe os dizeres atuais da bandeira de Minas Gerais, que traduzidos do latim significam: “Liberdade, ainda que tardia”. Tal liberdade, aparentemente já conquistada e assegurada pela Constituição Federal como direito de todo cidadão, prevê que o Estado, ex ditadura e atual república democrática, governe pelo povo e para o povo a partir das necessidades deste, apresentadas por meio da expressão.

Sendo assim, ao cumprir seus deveres morais e tributários, a sociedade deve ter acesso ao destino do dinheiro público, como também à transparência e à exatidão das ações dos investimentos governamentais. O que é certo e honesto, não apresenta motivos para ser escondido, fazendo com que não existam justificativas, por exemplo, para as licitações secretas da construção dos estádios para a Copa de 2014 no Brasil e nem para os projetos de leis que circulam pelo Congresso brasileiro exigindo censura a certos assuntos.

Clarice Lispector após definir liberdade, escreveu: “porque há direito ao grito, então eu grito!”. Sendo assim, onde já existe liberdade, obrigatoriamente tem expressão e é por meio dela que a população deve exigir o cumprimento da lei e sugerir maior autonomia dos estados, a fim de que a partir de um órgão oficial, apresentem mensalmente uma prestação de contas à sua população.

Afinal, talvez o que Clarice ansiava já possuísse um nome: justiça, coisa pública advinda da liberdade.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Diga não aos covardes




Um brinde aos passos minúsculos desses seres rastejantes. Andam na velocidade de uma boa notícia quando a ansiedade já extrapolou a lógica da espera.

Chega de meias bocas pra preencher profundos vazios. Meias bocas para beijar entradas inteiras. Meios beijos de respeito na testa. Meias palavras para dizer alguma coisa que, feita a análise fria, nada querem dizer. Intenções soltas e desejos desconexos. Esse mistério todo é uma violência contra a minha inteligência. Sejamos diretos para não sermos idiotas: eu te quero. Você me quer? Não sabe? Ah, então vá pra puta que te pariu. (E vá ser vago na casa da sua mãe porque embaixo da sua manga eu não fico mais!)

Este rebolado colorido que descola de seu cenário pastel, vem de meu ventre. Livre. Portanto não tente me escravizar, nem com promessas, intelectualidades, ou uma pegada daquelas. 

Este rebolado é quase que instintivo, meu jeito, nada sutil, apesar de ser essa a intenção, de te mostrar que há chances de ultrapassagem.

Seja inteligente, faça jus à espécie, seja Sapiens. Perceba o sinal verde, ultrapasse.

Não sabe se quer acelerar o motorzinho? Então vá treinar com uma boneca, uma revista, uma prima, a chata da sua mulher, a sem-sal da sua namorada ou o raio que os parta todos os mornos. Eu não sou morna e, se você não quiser se queimar, morra na temperatura do vômito.

E bem longe de mim. Ou venha me ajudar a ferver essa banheira. Vamos ficar cegos de vapor e vermelhos de vida. É sangue que corre nos meus sentimentos e não o enjôo morno de uma vida que se vai empurrando com a barriga. Barriga que vai crescer no sofá imundo dos acomodados. Eu ainda quero muito. Quero as três da manhã de um sábado e não as sete da tarde de uma quarta.

Vamos viver uma história de verdade ou vou ter que te mandar pastar com outras vaquinhas? Docinho vá fazer pra quem gosta de lamber o seu cuzinho, porque aqui nessa boquinha só entra cher nourriture . Vá contar esse seu papinho de "Hey, you never know" pra quem conta com a sorte e sabe esperar.

A sorte é sua de ser amado por mim e eu quero agora, ontem, semana passada.

Amanhã não sei mais das minhas prioridades: posso querer dormir com pijama de criança até meio-dia, pagar 500 reais numa saia amarela, comer bicho-de-pé no Amor aos Pedaços ou quem sabe dar para o seu chefe em cima da mesa dele.

Minha vontade de ser feliz é como a sua de gozar. E se eu te iludisse de tesão e levantasse rápido para retornar a minha vida? Você continuaria se fodendo sozinho para fugir da dor: é assim que vivo, masturbando minha mente de sonhos para tentar sugar alguma realização. É assim que vivo: me fodendo.

Chega de ser metade aquecida, metade apreciada, metade conhecida. Chega de ser metade comida em meios horários e meio amada em histórias pela metade. Chega de sorrir para o que não me contenta e me cobrar paciência com um profundo respiro de indignação.

Paciência é dom de amor aquietado, pobre, pela metade. Calma, raciocínio e estratégia são dons de amor que pára para racionalizar. Amor que é amor não pára, não tem intervalo, atropela. Não caio na mesma vala de quem empurra a vida porque ela me empurra. Ela faz com que eu me jogue em cima de você, nem que seja para te espantar. Melhor te ver correndo pra longe do que empacado em minha vida.

Tati Bernardi

Eu e Los Hermanos

Quem é mais sentimental que eu? Todos.
E o que falta de sentimento, sobra de ego e orgulho.